Laicidade uruguaia não chega à fronteira, revela pesquisa

Quanto mais perto das fronteiras, menos laico. Isso é o que mostrou uma nova pesquisa – a maior da última década – sobre a religiosidade dos uruguaios, habitantes de um país que se orgulha de ter afastado há muito tempo as influências da Igreja sobre a política e as leis.

Embora cerca de 47% da população do paisito se diga sem religião alguma no geral, essa distribuição não é homogênea. Na área metropolitana de Montevidéu, a proporção de não religiosos bate em 51,92%; no chamado “litoral leste”, mais próximo da capital e distante dos países vizinhos, a porcentagem chega a 54,77%. Mas nas divisas a história é diferente: os departamentos da “fronteira com o Brasil” têm apenas 34,95% de não religiosos, e o “litoral norte”, como a pesquisa chama a zona lindeira à Argentina, tem somente 31,40% que não se vinculam a alguma religião.

Além disso, cerca 1,62% dos uruguaios segue religiões de matriz africana – são os afroumbandistas – enquanto 3,25% da população diz seguir “outra religião”. Já judeus e muçulmanos representam apenas 0,35% dos habitantes.

Ao menos no caso dos vizinhos ao Brasil, é evidente a influência dos neopentecostais: “a primeira Igreja Universal do Reino de Deus se instalou em Artigas [na fronteira] e não em Montevidéu como muitos acreditam. Foi um avanço não muito planificado e que, pouco a pouco, foi ganhando adeptos entre os setores mais vulneráveis”, disse Nicolás Guigou, antropólogo social ouvido pelo jornal El Observador, que encomendou a enquete que ouviu 7 mil pessoas.

Enquanto na maior parte do Uruguai os cristãos não católicos são cerca de 11%, na fronteira com o Brasil essa proporção quase dobra e bate em 20,25%.