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Ex-militares são presos por tráfico de armas entre Paraguai e Brasil

GIRO LATINO

Operação coordenada por Paraguai, Brasil e Estados Unidos levou à captura de sete ex-militares paraguaios investigados por integrar uma suposta rede de tráfico de armas

9 de dez. de 234 min de leitura
9 de dez. de 234 min de leitura

Uma longa operação contra o tráfico internacional de armas, liderada por autoridades policiais e de inteligência de Paraguai, Brasil e Estados Unidos, foi deflagrada nesta semana, levando a dezenas de prisões, operações de busca e apreensão e intervenções em entidades dos três países. Buscando desmantelar uma rede que teria repassado pela fronteira mais de 43 mil armas às principais facções brasileiras – como o PCC e o Comando Vermelho, grupos atuantes em escala continental – a missão iniciada em 2020 ganhou destaque por implicar vários antigos militares paraguaios: dentre os 20 detidos no país guarani, pelo menos sete pertenceram às Forças Armadas, incluindo o ex-comandante da Força Aérea, Arturo González. 

De nome ‘Dakovo’ em referência a uma cidade croata onde se localizava parte da logística do esquema, a operação mira o que a Polícia Federal do Brasil descreve como uma “complexa e multimilionária engrenagem de tráfico ilícito de armas de fogo”. Segundo as investigações, as armas eram trazidas de países do Leste Europeu com destino à América do Sul, sempre usando uma mesma porta de entrada: o Paraguai. Ao desembarcar no continente, o armamento era levado a uma empresa em Assunção para então ser distribuído. Com a raspagem dos registros, a localização das armas se tornava muito mais complexa. O Ministério Público paraguaio detalhou em um comunicado que “milhares de pistolas, rifles e munições” atravessavam a conturbada fronteira para serem “vendidos a intermediários ligados ao crime organizado no Brasil”. 

Na terça-feira (5), autoridades anunciaram uma intervenção na sede da Diretoria de Material Bélico (Dimabel), entidade paraguaia que regulamenta armas, munições e explosivos no país. Além do general González, os outros ex-militares ligados (atualmente ou no passado) à Dimabel detidos durante a semana são o coronel Bienvenido Fretes, ex-diretor da organização, a capitã Josefina Cuevas Galeano, do comando do Exército, e Cinthia Turro, também militar. O Brasil chegou a solicitar o processo de extradição de Galeano e Turro. As buscas também miraram a empresa International Auto Supply (IAS), dirigida pelo argentino Diego Dirisio e sua companheira, Julieta Nardi. Visto como “cabeças” da rede, ambos foram detidos. De acordo com as investigações, a IAS seria responsável por importar as armas da Europa, valendo-se de contratos com a Dimabel, facilitando a rápida aprovação dos trâmites aduaneiros.

Entre os 20 detidos pela operação Dakovo no Paraguai, sete eram ex-membros das Forças Armadas, incluindo o ex-comandante da Força Aérea, Arturo González. Foto: Shufu Liu / Governo de Taiwan
Entre os 20 detidos pela operação Dakovo no Paraguai, sete eram ex-membros das Forças Armadas, incluindo o ex-comandante da Força Aérea, Arturo González. Foto: Shufu Liu / Governo de Taiwan

As atividades da empresa intermediadora começaram bem antes disso: a companhia de Dirisio teria trazido mais de 25 mil armas desde 2012 – supostamente vendidas no mercado interno. A investigação descobriu, porém, que boa parte desse armamento teria atravessado a divisa com o Brasil e parado nas mãos de criminosos. Durante as operações realizadas nos últimos dias, autoridades apreenderam milhares de dólares utilizados no processo. As investigações devem seguir com novos desdobramentos pelas próximas semanas.

A fronteira entre Brasil e Paraguai, como já mostrado por este GIRO em dezenas de edições, é considerada um dos pontos mais violentos da América do Sul, sendo palco de enfrentamentos rotineiros entre diferentes facções, além de um ponto estratégico para o tráfico e o contrabando. Um dos focos de atividades ilícitas é a paraguaia Pedro Juan Caballero, gêmea da brasileira Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul.

Não são incomuns os casos cinematográficos de execução registrados nesses municípios, que sozinhos concentram boa parte dos homicídios da região. No ano passado, o prefeito da cidade paraguaia, José Carlos Acevedo, foi executado em um atentado ao sair da sede da prefeitura. Um ano antes, Haylee Acevedo, sobrinha dele e filha do então governador de Amambay (departamento do qual Pedro Juan Caballero é capital), também foi assassinada ao lado de outras três pessoas na saída de uma festa. O ex-governador Ronald Acevedo lembrou no primeiro aniversário de morte da filha que as balas usadas no crime eram de controle da mesma Dimabel que hoje é investigada por tráfico: “o Estado é cúmplice”, disse o político no ano passado, em mais um exemplo da simbiose entre crime e poder nos limites do país vizinho.

CAPA: Desfile militar durante a posse do presidente paraguaio Santiago Peña, em 16 de outubro. Foto: Shufu Liu / Governo de Taiwan

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